Entrevista a Akel Taqz,
do Comité Palestiniano para a Paz

A solidariedade<br> com a Palestina <br>é mais necessária<br> do que nunca

Só a pressão internacional e a solidariedade dos povos podem travar a política sionista de Israel e garantir os direitos dos palestinianos, sublinhou Akel Taqz, do Comité Palestiniano para a Paz e a Solidariedade, que à margem das reuniões do Secretariado e da Região Europa do Conselho Mundial da Paz, realizadas no primeiro fim-de-semana de Junho, no Seixal, concedeu uma entrevista ao Avante!.

O objectivo de Israel é inviabilizar a resolução pacífica do conflito e eternizar a guerra no Médio Oriente

A luta dos prisioneiros palestinianos emergiu como uma das mais vivas nos últimos meses. Tem sido uma mais-valia na reivindicação mais geral do povo da Palestina?

Sim, claro. Existem cerca de cinco mil presos palestinianos nas cadeias israelitas, entre os quais estão doentes, quase 300 menores de idade e muitas mulheres. 25 presos sofrem de cancro e alguns dos detidos acabaram por morrer em resultado da falta de assistência médica.

A longa greve de fome dos presos palestinianos, com destaque para a levada a cabo por Samir Issawi, que esteve mais de 300 dias em luta, sendo seguido por outros que com ele partilham o mesmo inferno, demonstrou que esta matéria tem que estar na agenda da comunidade internacional. As condições a que são sujeitos os presos palestinianos, bem como a sua manutenção na prisão sem acusação formal, sem serem ouvidos num tribunal, não podem prosseguir e devem merecer um amplo e crescente repúdio global.

Os palestinianos, sozinhos, não podem alterar esta situação. Só a pressão das instituições e organismos internacionais sobre Israel, a par da solidariedade das organizações de defesa dos direitos humanos, da paz e da causa palestiniana, será capaz de impor alterações substanciais.

 

Mas como é que aquela luta se articula com a questão de fundo da conquista de um Estado independente por parte da Palestina?

Existem resoluções das Nações Unidas sobre a criação de um Estado palestiniano, várias posições assumidas pela ONU em que se reconhece a legitimidade e justeza da nossa causa, muitas votações que condenam os colonatos, a ocupação ilegal dos nossos territórios por parte de Israel. A admissão da Palestina como Estado-membro pela Assembleia Geral da ONU foi um golpe na política de Israel, sempre apoiada diplomática e militarmente pelos EUA.

Mas o que a história demonstra é que Israel não cumpre, nunca observou qualquer destas resoluções. Pelo contrário, tem permanentemente violado os mais elementares princípios do direito internacional.

Neste contexto, e tal como na luta dos presos palestinianos encarcerados por Israel, acreditamos que a pressão internacional, o esclarecimento da opinião pública e a sua mobilização para a acção solidária, podem contribuir de forma decisiva para travar Israel e fazer valer os direitos da Palestina.

 

Temos assistido a uma crescente agressividade por parte de Israel. É essa orientação o grande obstáculo à paz?

A política sionista de agressão ao povo palestiniano mantém-se desde a criação do Estado de Israel, sempre suportada pelos EUA.

Em 1947, a ONU aprovou a divisão da Palestina em dois estados. Israel impediu a sua concretização. Em 1967, Israel ocupou mais territórios palestinianos, incluindo Jerusalém, e os Montes Golã, na Síria. Em 1982, invadiu o Líbano, expulsou a Organização de Libertação da Palestina, e até ao ano 2000 manteve o Sul daquele país ocupado. Em 2006, voltou a atacar o Líbano, e em 2007 impôs um bloqueio à Faixa de Gaza, tendo, depois, levado a cabo várias ofensivas militares no território. A construção de colonatos avança imparável, e na Cisjordânia foi erguido um muro de separação com quilómetros de extensão. As reservas de água têm sido saqueadas aos palestinianos. O que é que Israel pretende com tudo isto?

O objectivo é inviabilizar a constituição de um Estado palestiniano, impedindo, assim, a resolução pacífica do conflito com a coexistência de dois estados soberanos. É por isso que temos vindo a alertar a comunidade internacional para o facto de o tempo se estar a esgotar, para a realidade de que Israel está a destruir, no terreno, uma solução justa.

Por este caminho, não só não haverá paz entre palestinianos e israelitas, mas em todo o Médio Oriente. O conflito na região vai eternizar-se. Israel tem de ser forçado a parar, caso contrário avançará com o projecto sionista de segregação e afastamento dos palestinianos, de consolidação de um território exclusivamente judeu onde os palestinianos não têm lugar. Note-se que, actualmente, dois terços dos palestinianos já se encontram refugiados.

Se os EUA e a UE não mudarem de política face a Israel, as guerras, os massacres vão prosseguir. Não é isso que querem os povos da região. Acredito que a maioria rejeita continuar a sofrer as consequências da política de um Estado que, ao longo de décadas, tem sido um instrumento do imperialismo no Médio Oriente.

 

Vê com esperança a eclosão de movimentações sociais em Israel?

É evidente que é animador. No entanto, temos que ser realistas. Os protestos em Israel não estão concentrados na questão da paz e da causa palestiniana. Eclodiram devido a graves problemas sociais e económicos que afectam as camadas populares. Por outro lado, não podemos esquecer que as últimas eleições mostram que os israelitas estão a votar em partidos cada vez mais extremistas, que nas urnas escolhem cada vez mais à direita.

Vemos, igualmente, que o movimento da paz e as forças progressistas e democráticas de Israel, o próprio Partido Comunista de Israel, não têm ainda entre a população a força que pretendem e para a qual têm trabalhado. A maioria dos seus apoiantes são árabes-israelitas. Neste quadro, mudanças radicais a curto prazo são improváveis.

Acresce que observamos com grande apreensão as alterações verificadas em alguns países árabes e o afastamento da questão palestiniana como central na sua agenda política. A NATO e os EUA destruíram o Iraque. Depois, destruíram a Líbia. Agora estão a destruir a Síria e a arrastar o Líbano para o conflito naquele país. Isto é, as nações que sempre desempenharam e podiam continuar a desempenhar um papel significativo na resolução da questão palestiniana e no apoio à nossa luta, foram alvo de agressões e estão mergulhadas em problemas internos.

Esta foi, aliás, uma parte importante da estratégia das forças imperialistas: manter as nações apoiantes da nossa causa envolvidas em guerras, obrigando-as a não darem prioridade à questão palestiniana. Os países árabes do Golfo estão controlados pelo imperialismo e subordinados à sua estratégia.

Por isso insisto que o povo palestiniano, sozinho, não consegue enfrentar o cerco, e sublinho a solidariedade internacional na defesa dos direitos dos palestinianos como factor fundamental.




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